terça-feira, 17 de julho de 2012

O assassino era o escriba


Logo após as provas de junho eu ouvi, pelos corredores, alguns alunos reclamarem que não suportavam a língua portuguesa. Lembrei-me, então, de um texto de Paulo Leminski que retrata bem o "amor" de alguns alunos em relação aos professores desta disciplina.
Boa leitura.

O assassino era o escriba


Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da primeira conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido na sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

Um comentário:

  1. O professor de Língua Portuguesa, nessa era tecnológica deve procurar, sempre, uma alternativa plausível para lecionar com o brilho no olhar, caso contrário, fica no ambito da mesmisse, da chatisse. Nada mais tediante que não ser instigado pela nossa língua!

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