sábado, 21 de novembro de 2009

Coerência Textual

COERÊNCIA TEXTUAL




Um texto é coerente quando é possível interpretá-lo. Estudar a coerência de um texto é, pois, estudar as condições de sua interpretabilidade. Vejamos alguns exemplos:

( 1 ) Quem tem uma foto importada de 1000 cilindradas, que custa 20 mil dólares, não vai expô-la ao trânsito de uma cidade como Recife.

( 2 ) Holyfield venceu a luta, apesar de ser o mais forte dos lutadores.


Observe que os textos acima são incoerentes. No primeiro caso, houve o uso inadequado, talvez por erro de grafia, da palavra foto pela palavra moto. No segundo caso, houve uma falha gramatical. A conjunção apesar de não está adequada e deveria ser substituída pela conjunção pois, o que resultaria em coerência textual.

A coerência de um texto depende também de outros fatores, como os elementos contextualizadores que são data, local, elementos gráficos etc. Imagine o seguinte texto:

( 3 ) Hoje, eu, o rei, convido a todos a comparecer em massa, para assistir ao massacre de Israel.

Percebemos que a coerência textual também depende de nosso conhecimento de mundo.
Alguém com conhecimento em história pode relacionar o fato ao povo judeu, quando Roma, na ocupação da Judeia , a destruiu sob o comando do imperador Tito. Os mais aficionados por futebol, vão associar o texto à frase dita pelo rei Pelé, no Rio de Janeiro, em 1995, numa partida entre as seleções do Brasil e de Israel.

A meta-regra da não-contradição nos diz que cada pedaço do texto deve “fazer sentido” com o que se disse antes. Se um texto cita um fato e logo em seguida cita outra coisa diferente sobre o mesmo fato, fica bem clara a contradição. As informações não batem.Vejamos o texto a seguir:



Para as tropas aliadas, o dia 4 de junho foi um dia terrível. Os homens da quarta divisão de infantaria ficaram o dia inteiro no mar. Os navios-transporte e as embarcações de desembarque faziam círculos ao largo da ilha de Wight. As ondas arrebentavam sobre os lados, caía uma chuva forte. Os homens estavam prontos para o combate, mas sem destino nenhum. Depois dessa exaustiva caminhada, debaixo de um sol escaldante, todos estavam cansados. Nesse dia 3 de junho, ninguém queria jogar dados ou pôquer, ou ler um livro ou ouvir outra instrução. O desânimo tomava conta de todos.

A informação de que os soldados estavam exaustos depois de uma caminhada contradiz o que está pressuposto na parte inicial. Afinal, eles estavam embarcados em navios-transporte e pressupõe-se que, nessas condições, soldados não façam caminhadas. Outra coisa sem nexo é que caía uma forte chuva. Como eles podiam estar cansados sob um sol escaldante? Outra contradição é a de que no dia 3 de junho ninguém queria jogar dados ou pôquer. O início do texto explicita o dia 4 de junho. Portanto, o texto em questão tem coesão, progressão, mas é contraditório e, por isso, incoerente.
A regra-meta de relação estabelece que o conteúdo do texto deve estar adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis. Vejamos o seguinte texto:

O município de Gravatá abrange uma região imensa que é composta por vários estados limítrofes que ocupam uma área respeitável. Conta ainda com uma superpopulação, com uma maioria de pessoas cultas e uma juventude com grandes recursos educacionais, cursando as várias escolas e faculdades existentes.
Isto posto, essa cidade sente falta urgente de uma capela crematória. Para os leigos é preciso esclarecer que, para um corpo ser exumado através do forno crematório, há necessidade que ele registre esta vontade diante de duas testemunhas. Somente o interessado poderá usar esta forma de suprir seu desejo, caso contrário, a exumação seria da forma natural, ou seja, o sepultamento.

Esse texto contraria de várias maneiras a meta-regra de relação, pois seu conteúdo não condiz com a realidade. Afinal, Gravatá não se limita com vários estados, não tem superpopulação, um corpo (cadáver) não pode mais registrar suas vontades e, se pudesse, como o faria diante de duas testemunhas? Há também o emprego inadequado do léxico. Afinal, exumar não é o mesmo que cremar ou sepultar.

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