segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Vícios de Linguagem


Lembrando o professor Ronaldo Caldeira Xavier, ele escreveu que devemos entender por vício de linguagem qualquer transgressão à norma linguística. Os vícios de linguagem podem ocorrer no âmbito fonológico, morfológico ou sintático e, pela frequência da repetição entre os menos letrados, vêm a tornar-se hábitos inveterados. Hoje, é bem visível, que os vícios de linguagem estão arraigados mesmos entre aqueles que possuem bom nível de escolaridade e entre profissionais e estudantes de todas as áreas. A sequência abaixo mostra os principais vícios.

1) PLEONASMO VICIOSO

*Entrar para dentro

*Subir para cima

*Descer para baixo

*Sair para fora

2) AMBIGUIDADE/ANFIBOLOGIA

Ocorre pela falta de clareza, o que acarreta duplo sentido:

* Maria e Carlos foram à festa e levaram sua irmã.

* Estive em São Paulo logo que me casei duas vezes.

* Vi o sol surgir da janela do meu quarto no horizonte.

3) CACOFONIA/CACÓFATO

É a união de duas ou mais palavras que resulta em efeito sonoro desagradável.

*A irmã de Jane não era como ela.

*Paguei dez reais por cada CD.

*Mande-me já o relatório.

*A boca dela abriu-se num grito.

*Fui paraninfo dela na formatura.

4) BARBARISMO

É a pronuncia/grafia incorretas de uma palavra ou expressão.

*Cidadões, em vez de cidadãos.

*Húmido, em vez de úmido.

*Casa germinada, em vez de casa geminada.

*Rúbrica, em vez de rubrica.

*Embigo, em vez de umbigo.

*Estrupo, em vez de estupro.

5) ESTRANGEIRISMO

É o uso de uma palavra ou expressão estrangeira empregada no lugar de um termo correspondente na língua portuguesa.

*Chame meu chofer, por favor.

*Aqui está nosso menu, senhor.

*Quero meu drink sem gelo.

*É o melhor cowboy da fazenda.

*O show foi maravilhoso.

6) ARCAÍSMO

É o emprego de palavra ou expressão fora de uso.

*Vosmecê, em lugar de você.

*Ceroula, em lugar de cueca.

*Magote, em lugar de muitos, vários.

*Bigu, em lugar de carona.

7) COLISÃO

É o efeito sonoro desagradável, criado pela repetição de fonemas consonantais idênticos.

*O Papa Paulo VI pediu pela paz.

*Vovô Ivo comeu as uvas da vovó.

*O contratado assinou o contrato contrariado

8) ECO

É o efeito sonoro provocado pela sequência de palavras com a mesma terminação.

*Seu falar e seu andar me fazia sonhar.

*Houve tensão e aflição durante a recepção.

9) HIATO

É o efeito sonoro provocado pelo emprego de uma sequência de vogais.

· A plateia homenageia com faixas cheias de palavras feias.

10) PRECIOSISMO/REBUSCAMENTO

É o uso da linguagem artificial e muitas vezes vazia de ideias.

“Seu gesto altruísta e empreendedor ensombrece a existência dos demais mortais, que o têm como a figura máxima de nossa empresa, baluarte de nossas vitórias.”

11) NEOLOGISMO

É a criação de novas palavras ou expressões.

* Quando cheguei na cidade me senti todo agringalhado.

* Ninguém toca na minha bike. Ela é imexível.

12) SOLECISMO

Consiste em erro de sintaxe, seja de concordância, de regência ou de colocação.

* Vende-se casas. ( Vendem-se )

* Eu trouxe o livro, mas deixei ele no escritório. ( o deixei )

* Me traga um café. ( Traga-me )

sábado, 13 de novembro de 2010

Show de Vander Lee

O show do cantor e compositor mineiro Vander Lee no Teatro Guararapes, no centro de convenções, na noite da sexta-feira 12/11/2010, encantou a plateia recifense e turistas.
Auditório lotado, audiência super animada e muita simpatia deste novo astro da MPB.
VANDER LEE








Foto com o cantor
mineiro Vande Lee
em show no Recife
em 12/11/2010 no
teatro Guararapes.
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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO


1. FRASE

É uma palavra ou um conjunto de palavras que tem sentido completo e organizado, estabelecendo comunicação entre duas ou mais pessoas.

A frase é marcada, na fala, pela entoação e, na escrita, pela pontuação.

Ao escrever uma frase, deve-se começar com letra maiúscula e, de acordo com a intenção do emissor, terminar em ponto-final, ponto de interrogação ou ponto de exclamação. Observe esta sequência:

a) Bem-vindos à cidade sejam nossa.

b) As crianças brincam na?

c) Vencerás não morrerás

Como estão, as palavras dos três exemplos acima não formam frases. Para formarmos frases, devemos observar os princípios necessários para estabelecer comunicação.

a) No primeiro exemplo, as palavras precisam obedecer a uma determinada ordem: Sejam bem-vindos à nossa cidade.

b) No segundo exemplo, há necessidade de palavras para completar o sentido do pensamento: As crianças brincam na calçada/na rua.

c) No terceiro exemplo, é necessária a pontuação para indicar a intenção do emissor: Vencerás, não morrerás. Ou Vencerás? Não, morrerás.

A frase, de acordo com a construção, pode ser verbal ou nominal.

Frase nominal: Não há presença de verbo. Ex: Que mulher elegante!

Bom dia, pessoal!

Tudo bem?

Frase verbal: Há presença de verbo. Ex: Que mulher elegante eu vi ontem.

O dia está bonito.

Tudo vai bem com Skol.

SOCORRO s. m. Auxílio; amparo; proteção.

A palavra SOCORRO, sem entonação, como está no dicionário (exemplo acima) escrita isoladamente é apenas um termo que não estabelece comunicação. Mas, se alguém gritar SOCORRO! Numa situação de perigo, com entonação de medo ou angústia, essa palavra será uma frase.

A frase, de acordo com a intenção do emissor, pode ser:

a) Declarativa afirmativa: declara uma ideia afirmativamente e, na escrita, termina com ponto-final. Ex: Ela dança bem.

b) Interrogativa: Pede alguma informação ou faz alguma pergunta. Termina com ponto de interrogação. Ex: Ela dança bem?

c) Exclamativa: Expressa emoção, admiração, espanto. Termina com ponto de exclamação. Ex: Nossa, como ela dança bem!

d) Imperativa: Expressa pedido ou ordem. Termina com ponto final ou de exclamação. Ex: Dance agora ou dance agora!

e) Negativa: Indica uma negação, podendo ser:

Declarativa negativa: Ela não dança bem.

Interrogativa negativa: Ela não dança bem?

Exclamativa negativa: Nossa, ela não dança bem!

Imperativa negativa: Não dance agora.

Para refletir:

1. O que é frase?

2. De acordo com a construção, como pode ser a frase?

3. Qual a diferença entre frase nominal e verbal?

4. De acordo com a intenção do emissor, como pode ser a frase?

5. Como devemos iniciar e terminar uma frase?

2. ORAÇÃO

É o enunciado que contém um verbo ou uma locução verbal.

Atenção: Nem toda frase é oração.

Por Exemplo: Que dia lindo!

Este enunciado é frase, pois tem sentido.

Este enunciado não é oração, pois não possui verbo.

3. PERÍODO

É uma frase verbal formada por uma ou mais orações.

PERÍODO SIMPLES: Frase verbal formada por uma única oração, ou seja, por um único verbo. É também chamada de Oração Absoluta.

Ex: As crianças brincam. O amor é eterno. Nós precisamos de paz.

PERÍODO COMPOSTO: Frase verbal formada por duas ou mais orações.

Ex: As crianças brincam e os adultos trabalham. Eu vou embora e você fica aqui. Eu já vou indo porque preciso estudar.

Vamos praticar?

“Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e eu pensei que fosse seu”.

a) Sublinhe os verbos dessa frase.

b) Quantas orações há no período em questão?

c) Como se classifica esse período?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

POR QUE/POR QUÊ/PORQUE/PORQUÊ


POR QUE: (separado e sem acento) é usado no início de frases interrogativas.

Por que você está tão feliz hoje?

Por que ela não me ligou?

Por que eles não vieram trabalhar ontem?

Observe que muitas vezes utilizamos frases na forma interrogativa indireta, sem a necessidade do sinal de interrogação. Nesses casos, por que deve vir no meio.

Não entendo por que é preciso correr tanto. ( Por que é preciso correr tanto?)

Não sei por que você está chorando. ( Por que você está chorando?)

Perceba que as palavras por que também podem vir no meio da frase com sentido equivalente a pelo qual ou pela qual.

Este é o motivo por que não cheguei na hora. (pelo qual)

A rua por que passei ontem não era calçada. (pela qual)

POR QUÊ: ( separado e com acento ) é usado no final de frases interrogativas.

Você não me telefonou, por quê?

Ele não veio à aula, por quê?

Não leu minha mensagem, por quê?

PORQUE: ( junto e sem acento ) é usado nas respostas e equivale a pois, já que, visto que.

Eu não vim à aula ontem porque estava doente.

Porque estava com calor eu abri a janela.

Cheguei atrasado ao trabalho porque perdi o ônibus.

PORQUÊ: ( junto e com acento ) equivale a motivo, razão. É um substantivo e vem precedido de determinante ( artigo, numeral ).

Todos entenderam o porquê da minha ausência.

Tenho um porquê para cancelar meu contrato.

Gostaria de saber o porquê de tanto barulho.

Outros exemplos:

Por que você não quer falar comigo?

Você não quer falar comigo, por quê?

Não sei por que você não quer falar comigo.

Vou dizer a razão por que não quero falar com você.

Não quero falar com você porque estou muito chateada.

Não sei o porquê de você não querer falar comigo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Pernambuco Voluntário

Movimento Solidário

Apesar de ainda estarmos impactados pelas tragédias ocorridas por causas das enchentes em alguns municípios pernambucanos, vários são os que não temem a luta e arregaçam as mangas em prol dos menos favorecidos. Dia 19 de julho participei com vários amigos dos trabalhos em favor das vítimas das enchentes na cidade de Palmares. Muito ainda há que ser feito, mas o povo pernambucano é assim: valente e muito solidário!


Foto em frente ao Palácio do Campo das Princesas.
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terça-feira, 13 de julho de 2010

EM DOMICÍLIO OU A DOMICÍLIO?

Usa-se em domicílio com os verbos entregar, dar, fazer, etc. ( não indicam movimento )


Foi feita a entrega em domicílio.

Dão-se aulas de reforço em domicílio.

Fazem-se unhas em domicílio.

Corta-se cabelo em domicílio.


Usa-se a domicílio com verbos que têm idéia de movimento: levar, mandar, enviar, etc.


Enviamos a domicílio.

Levamos a domicílio.

Mandamos a domicílio.

Segundo alguns gramáticos, hoje em dia, pode-se usar em domicílio de forma geral.

Nos concursos, porém, temos que seguir a gramática descritiva/norma culta.

ESTADA OU ESTADIA?

Embora muitos utilizem estada ou estadia para designar a mesma coisa, optamos pela norma padrão. Estada é a permanência de uma pessoa ou animal em algum lugar. Estadia é a permanência de navio no porto ou automóvel em um pátio.

Nossa estada na Grécia foi ótima.

A estadia do navio no porto do Recife será breve.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

SEÇÃO, SESSÃO OU CESSÃO?

Seção: divisão, repartição, setor, parte de uma publicação. É o mesmo que secção.

Vou dar uma olhada na seção de brinquedos. ( repartição )

A seção de culinária desta revista é ótima. ( parte de uma publicação )


Sessão: tempo de duração de uma reunião ou espetáculo.

Quero ver o filme, mas só posso ir à sessão das dez. ( período de um espetáculo )

Ela já terminou a sessão com o psicanalista? ( período de uma reunião )


Cessão: ato de ceder, dar, transferir ou dar posse de algo a outrem.

Fizeram um contrato de cessão de direitos. ( ato de ceder )

A cessão de seus bens foi aceita. ( transferência, posse de algo a outrem )

TRASLADO OU TRANSLADO?

As duas palavras têm os mesmos significados e podem ser usadas uma no lugar da outra sem problemas. Trasladar ou transladar é o mesmo que transportar, transferir, mudar. O verbo trasladar tem ainda outros sentidos: traduzir, copiar, transcrever.


O documento foi trasladado/transladado para a Inglaterra. ( transportado, transferido )

O documento foi trasladado para o inglês. ( traduzido )

A empresa oferece traslado/translado do hotel ao aeroporto. ( transporte )


Hoje, muitas empresas ( aéreas, marítimas e de turismo ) preferem usar o termo translado para o transporte de pessoas falecidas:

O translado das vítimas do vôo 407 acontecerá depois de amanhã.


O Portal Consular do Brasil ( Ministério das Relações Exteriores ) prefere usar o termo traslado:

Procedimentos para o traslado do corpo para o Brasil.

ONDE OU AONDE?


ONDE: usado quando o verbo não indica movimento.

Onde você comprou esta camisa?

Onde ela encontrou o livro?

A loja onde trabalho pegou fogo.


AONDE: usado quando o verbo indica movimento.

Aonde você foi ontem?

Aonde ele vai?

Leve isso aonde eu não possa ver.


quarta-feira, 26 de maio de 2010

AI SE SÊSSE ( Zé da Luz )


Se um dia nóis se gostasse;
Se um dia nóis se queresse;
Se nóis dois se impariásse,
Se juntin nóis dois vivesse!
Se juntin nós dois morasse
Se juntin nóis dois drumisse;
Se juntin nóis dois morresse!
Se pro céu nós assubisse,
Mas porém, se acontecesse
Qui São Pêdo não abrisse
As portas do céu e fosse,
Te dizê quarqué tolíce?
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse,
Prá qui eu me arrezorvesse
E a minha faca eu puxasse,
E o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nóis dois ficasse
Tarvez qui nóis dois caísse
E o céu furado arriasse
E as virge tôdas fugisse!!!


sábado, 8 de maio de 2010

Soneto do amor total ( Vinicius de Moraes )
















Amo-te tanto,meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

TIPOS DE ASSALTOS


  • Assalto gaúcho:

- "Ô guri, fica atento… Bah, isso é um assalto... Levanta os braços e te aquietas, tchê! Não tentas nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade. Passa as pila pra cá! E te manda a la cria, se não o estrago vai ser grande, tchê!!!"

  • Assalto mineiro:

- "Ô sô, prestenção... Isso é um assarto, uai... Levanta os braço e fica quietim quesse trem tá chei de bala... Mió passá logo os trocado que eu num tô bão hoje. Vai andando, sô! Tá esperando o quê, uai?"

  • Assalto paulista:

- "Aí, meu... Isso é um assalto, falô... Levanta os braço, meu... Passa a grana aí. Mais rápido, sinão vai ter pipoco, que eu ainda preciso pegá a bilheteria aberta pra comprá o ingresso pro jogo do Cúrintiâns, meu... Pô, se manda que a casa cai pro seu lado mano, falô..."

  • Assalto carioca:

- "Seguinte, bicho... Tu te deu mal. Isso é um assalto. Passa a grana e levanta os braço, rapá... Não fica de bobeira que eu atiro bem ... Vai andando e se olhar pra trás tu vai virar presunto. E anda logo que eu tô com pressa, cara! Tem jogo do Mengão daqui a pouco!!!"

  • Assalto baiano:

- "Ô meu rei...Isso é um assalto... Levanta os braços, mas não se avexe não... Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado... Vai passando a grana bem devagarinho. Num repara se o berro tá sem bala, mas é pra não ficar muito pesado... Não esquenta meu irmãozinho. Vou deixar teus documentos na próxima encruzilhada."

  • Assalto cearense:

- "Ei bixim... Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem faça muganga... Passa vexado o dinheiro senão eu meto essa pexera no teu bucho e boto teu fato pra fora... Perdão meu Padim Ciço, mas é que tô com uma fome da mulesta dos cachorro!!!

  • Assalto braziliense:

- "Votem em mim! Eu prometo fazer muitas coisas por vocês! Prometo consertar esse país, prometo investir na saúde, educação e na economia! Vou fazer maravilhas por esse país! Nos meus governos passados, eu já construi aeroportos, pontes e hospitais. Já fiz projetos que salvaram milhões de vidas e renderam dezenas de milhões de empregos! E agora, se vocês votarem em mim, prometo fazer o dobro! Ou melhor, o triplo! Votem em mim!"

domingo, 7 de março de 2010

Luvas de Lembrança

Luvas de Lembrança

O namorado está em Nova Iorque e resolve mandar um presente para sua namorada. Entra em uma loja finíssima, mas não sabe o que escolher. Observando a elegância das novaiorquinas mesmo no frio, resolve pegar um caríssimo par de luvas e mandar para ela.

Ele pede para que a balconista embrulhe com um lindo papel de presente, enquanto vai ao caixa pagar. Descuidadamente, ela lhe entrega outro pacote, com o mesmo papel de embrulho, contendo dentro uma calcinha de nylon.

Sem saber do engano, o namorado envia o presente com um bilhete:

“ Querida. Para mostrar que mesmo estando longe não me esqueço de você, envio-lhe esta surpresa, mesmo sabendo que você não gosta de usar, pois neste tempo todo que estamos juntos nunca te vi usando uma. Gostaria de estar aí para poder ajudá-la a vestir. Fiquei em dúvida quanto à cor, mas a balconista me falou que esta não descora nem mancha. Ela mesma experimentou para eu ver se ficou boa. Aprovei na hora. Acho que em você vai ficar um pouquinho larga na frente, mas ela disse que é normal, pois facilita para que os dedos se mexam mais à vontade. Depois de usá-la, vire pelo avesso e ponha um pouco de talco para evitar o mau cheiro por causa do suor, tá? Espero que você esteja tão satisfeita quanto eu, pois ela vai cobrir aquilo que em breve irei lhe pedir.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Defenestração

Defenestração

Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra. Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.
-- Os hermeneutas estão chegando!
-- Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...
Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter um sentido oculto.
-- Alô...
-- O que é que você quer dizer com isso?
Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
-- Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.
Plúmbeo devia ser um barulho que o corpo faz ao cair na água. Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico.
Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:
-- Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas... Ah, algumas defenestravam.
Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais. Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais? "Nestes termos, pede defenestração..." Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em:
-- Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata. Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. "Defenestração" vem do francês "defenestration". Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela.
Ato de atirar alguém ou algo pela janela! Acabou a minha ignorância mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?
Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como o rapé. Um vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo.
-- Lês defenestrations. Devem ser proibidas.
-- Sim, monsieur le Ministre.
-- São um escândalo nacional. Ainda mais agora, com os novos prédios.
-- Sim, monsieur lê Mnistre.
-- Com prédios de três, quatro andares, ainda era possível. Até divertido. Mas, daí para cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: "Interdit de defenestrer". Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.
Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.
-- É essa estranha vontade de jogar alguém ou algo pela janela, doutor...
-- Humm, O Impulsus defenestrex de que nos fala Freud. Algo a ver com a mãe. Nada com o que se preocupar -- diz o analista, afastando-se da janela.
Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada. Na lua-de-mel, numa suíte matrimonial no 17º andar.
-- Querida...
-- Mmmm?
-- Há uma coisa que preciso lhe dizer...
-- Fala, Amor
-- Sou um defenestrador.
E a noiva, em sua inocência, caminha para a cama:
-- Estou pronta para experimentar tudo com você! TUDO!
Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta para cima e babulcia:
-- Fui defenestrado...
Alguém comenta:
-- Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela?
Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta crônica. Se ela sair é porque resisti.


Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Palíndromos

PALÍNDROMOS



Chamamos de palíndromo a palavra ou frase que pode ser lida/escrita da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda. Este vocábulo é de origem grega. Os elementos palin ( de novo) e dromo ( percurso ) nos dão a ideia de que estas palavras ou frases nos remetem ao mesmo sentido independentemente do inicio do seu trajeto.
Embora as frases palindrômicas pareçam ser a perfeição da simetria e tenham sido consideradas mágicas pelos antigos, muitos as consideram sem importância, visto que em sua maioria, são frases sem muita expressão. Vamos nos divertir um pouco?



PALAVRAS

arara
ovo
Ana
reviver
rir
osso
socos
Bob
reler
sopapos
radar
ele
Oto
raiar
anilina




FRASES


Oi, rato otário!
A base do teto desaba.
A grama é amarga.
Ame o poema.
Anotaram a data da maratona?
A sacada da casa.
E até o Papa poeta é.
Ele padece da pele.
Eva, asse essa ave!
Livre do poder vil.
Erro comum ocorre.
A mala nada na lama.
O Cid é médico.
Adias a data da saída.
A diva em Argel alegra-me a vida.
Assim, a sopa só mereceremos após a missa.
O pó de cocaína mata maníaco cedo, pô!
Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos!
Roda esse corpo, processe a dor!
A Daniela ama a lei? Nada!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Variação Linguística

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA



Variação Estilística : Não há falante/escritor que fale/escreva da mesma forma. Temos um estilo próprio, que expressa nosso ponto de vista sobre o mundo e a sociedade; ele é a bagagem que acumulamos com nossas experiências pessoais e únicas.Essas experiências se manifestam no nosso vestuário, andar, comportamento e, lógico, na nossa fala e escrita.
Quando articulamos a fala e a escrita, fazemos mais escolhas da ordem do significado (semânticas) do que escolhas morfológicas ou sintáticas. As seleções pessoais estão interligadas, normalmente, com as situações de uso da língua. Um médico em uma conferência fará escolhas linguísticas diferentes daquelas que usa quando conversa com os filhos.

Variação Sociocultural : Extremamente ligada à variação estilística. Destacam-se os usos diferenciados por faixa etária, principalmente os das crianças, dos jovens (a gíria) e dos idosos (esses com termos e formas que vão caindo em desuso). Os jovens, em busca de sua identidade, costumam criar formas próprias de expressão, transformando o significado dos termos ou criando uma sintaxe própria. Assim, entre os jovens, temos as tribos dos surfistas, dos skatistas, dos rappers, dos mauricinhos, das patricinhas, dos punks, e assim por diante.
Na variação por sexo, o uso do diminutivo, por exemplo, é mais comum na fala das mulheres do que dos homens. Provavelmente, por conta da preocupação de evitar palavras mais afetivas, devido à avaliação social de seu “machismo”.
Outra variação interessante é a de determinados grupos profissionais (jargão). Muitos têm terminologia própria, como advogados, médicos, mecânicos, jogadores, policiais etc. Há ainda os intelectuais, que costumam falar por meio de alusões e citações.

Variação Geográfica : Além da mudança de língua de uma região para a outra do planeta, temos as variações dentro de um mesmo país que fala uma mesma língua. A língua portuguesa mostra diferenças de fala e escrita em Portugal e no Brasil, e mesmo dentro destes países temos regiões que apresentam marcas específicas, principalmente na fala. Essas variações também são denominadas regionalismos, dialetos ou falares locais.
A variação geográfica, diferente das outras citadas, representa fatos sociais de uma determinada região e é interiorizada por todos os falantes, já que sua aprendizagem ocorre, na maioria das vezes, no ambiente familiar e permanece como marca de identidade do grupo social.

Variação Histórica : A língua não se diversifica apenas no espaço social, pessoal ou interpessoal; ela se diversifica também no tempo. Uma variante divulgada por um grupo social em determinada época, pode ser abandonada no transcorrer do tempo, ficando sua marca somente no registro escrito. Palavras, expressões ou construções não mais usadas são denominadas arcaísmos. Já os neologismos são adotados e propagados por grupos sociais e acabam se juntando à língua como variantes aceitas e reconhecidas. Em tempos de tecnologia, palavras vão sendo assimiladas, como os termos específicos da informática, e outras vão adquirindo novos significados.